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'força de uma ordem momentânea, estritamente necessária', 2017
Proposta: Ensaio
Materiais: Madeira, metal, borracha e rolamento
Dimensões: 240x240x50 cm
“Os campos estão cobertos de erva e, ao meio, vibram na aragem aguda algumas hastes de cevada. Principia a ordenação abstrata das cores - violentas, delicadas – no cheiro estreme da maresia e da areia que já aquece. O céu levanta-se como um animal. A terra pensa em cima dos labirintos da água. E a primavera sobe, fortalece-se, ganha precisão. A cevada amadurece depressa na exaltante transparência do espaço, mexida leve leve pela aragem.
Na atmosfera nítida, cuja intrínseca violência se dissimula, nascem repentinas fontes de júbilo. Desenvolve-se furiosamente no coração um extremo pensamento de perenidade, tão novo e exclusivo que a carne verga ao seu peso. Aspira ambiguidade ao aniquilamento obscuro, rápido, total. Uma colina branca resplandece tão veemente que parece ter levantado voo.
Os homens descem até à praia e estendem-se na areia onde correm centenas de lagartixas fazendo desenhos complicadíssimos e fúteis. E enquanto os homens dormem, os montes ao alto são nus e amarelos. Eles dormem, e os montes ficam sempre vazios e secos sob o sol tranquilo. Com o seu perfume cru o mar invade a ilha. É o perfume do mar na primavera. Ou é o perfume do mar no verão. Os poros ardem tocados pelo ar salgado. A cabeça fecha-se. Vem do fundo um rumor cego. Então os homens vão para casa e fornicam as mulheres.
Esta gente possui o orgulho firme de quem conhece o poder das coisas, o sentido da inutilidade essencial da vida contra o qual nada mais se deve opor que a força de uma ordem momentânea, estritamente necessária. É preciso comer um mínimo, trabalhar um mínimo, acreditar um mínimo nestas hastes ainda verdes que estremecem ao vento de maio. Depois, tudo quanto se pode fazer é ficar ao sol olhando perdidamente a água do mar, ou ir para as casas mal-reconstruídas, no meio do vento estriado de areia, e fornicar com as mulheres que envelhecem depressa.”
Herberto Helder, in Photomaton & Vox, 6ª edição, 2015, Porto Editora
Sinopse:
“força de uma ordem momentânea, estritamente necessária, 2017” é um mecanismo de transformação da paisagem. Partindo deste excerto de Herberto Helder, reflete sobre o contemplar de um ciclo, a consciência que o tempo e as suas construções são transmutáveis e incertas, e no tempo como agente biológico que constrói e simultaneamente destrói.
É uma reinterpretação de um processo frequentemente associado ao estuque tradicional, que consiste numa bitola associada a um eixo.
A criação de um círculo na paisagem remete para a ideia de ciclo pela sua forma constante e neutra e pela própria ação de ativação do mecanismo.
O perfil que está associado ao eixo tem o desenho de um fragmento de segundo das ondas sonoras do local onde foi instalada, constituindo-se quase como que uma modelação da matéria sonora na paisagem. O efeito visual assemelha-se às reverberações na água quando uma pedra cai sobre uma superfície de agua parada.
A areia do local escolhido torna-se um elemento pouco estável, e o seu constante desmoronamento torna ainda mais importante a reativação constante da peça e a necessidade de continuar a construir um ciclo.
Materiais: Madeira, metal, borracha e rolamento
Dimensões: 240x240x50 cm
“Os campos estão cobertos de erva e, ao meio, vibram na aragem aguda algumas hastes de cevada. Principia a ordenação abstrata das cores - violentas, delicadas – no cheiro estreme da maresia e da areia que já aquece. O céu levanta-se como um animal. A terra pensa em cima dos labirintos da água. E a primavera sobe, fortalece-se, ganha precisão. A cevada amadurece depressa na exaltante transparência do espaço, mexida leve leve pela aragem.
Na atmosfera nítida, cuja intrínseca violência se dissimula, nascem repentinas fontes de júbilo. Desenvolve-se furiosamente no coração um extremo pensamento de perenidade, tão novo e exclusivo que a carne verga ao seu peso. Aspira ambiguidade ao aniquilamento obscuro, rápido, total. Uma colina branca resplandece tão veemente que parece ter levantado voo.
Os homens descem até à praia e estendem-se na areia onde correm centenas de lagartixas fazendo desenhos complicadíssimos e fúteis. E enquanto os homens dormem, os montes ao alto são nus e amarelos. Eles dormem, e os montes ficam sempre vazios e secos sob o sol tranquilo. Com o seu perfume cru o mar invade a ilha. É o perfume do mar na primavera. Ou é o perfume do mar no verão. Os poros ardem tocados pelo ar salgado. A cabeça fecha-se. Vem do fundo um rumor cego. Então os homens vão para casa e fornicam as mulheres.
Esta gente possui o orgulho firme de quem conhece o poder das coisas, o sentido da inutilidade essencial da vida contra o qual nada mais se deve opor que a força de uma ordem momentânea, estritamente necessária. É preciso comer um mínimo, trabalhar um mínimo, acreditar um mínimo nestas hastes ainda verdes que estremecem ao vento de maio. Depois, tudo quanto se pode fazer é ficar ao sol olhando perdidamente a água do mar, ou ir para as casas mal-reconstruídas, no meio do vento estriado de areia, e fornicar com as mulheres que envelhecem depressa.”
Herberto Helder, in Photomaton & Vox, 6ª edição, 2015, Porto Editora
Sinopse:
“força de uma ordem momentânea, estritamente necessária, 2017” é um mecanismo de transformação da paisagem. Partindo deste excerto de Herberto Helder, reflete sobre o contemplar de um ciclo, a consciência que o tempo e as suas construções são transmutáveis e incertas, e no tempo como agente biológico que constrói e simultaneamente destrói.
É uma reinterpretação de um processo frequentemente associado ao estuque tradicional, que consiste numa bitola associada a um eixo.
A criação de um círculo na paisagem remete para a ideia de ciclo pela sua forma constante e neutra e pela própria ação de ativação do mecanismo.
O perfil que está associado ao eixo tem o desenho de um fragmento de segundo das ondas sonoras do local onde foi instalada, constituindo-se quase como que uma modelação da matéria sonora na paisagem. O efeito visual assemelha-se às reverberações na água quando uma pedra cai sobre uma superfície de agua parada.
A areia do local escolhido torna-se um elemento pouco estável, e o seu constante desmoronamento torna ainda mais importante a reativação constante da peça e a necessidade de continuar a construir um ciclo.
Presença ausente, 2017
Vídeo instalação
Dimensões variáveis consoante o local apresentado, projeção da figura à escala real (177cm)
Sinopse:
Este projeto parte de uma de uma característica minha relativa a certas circunstâncias, o facto de querer passar despercebido nas situações, tentando ser sempre o mais discreto possível.
Esta questão de “Como não ser visto?” foi o mote para este trabalho. Comecei, então, a pensar como poderia criar uma imagem que materializasse esta ideia de camuflagem social. Surgiu a ideia de usar o Green Screen/Chroma key como meio de converter o fundo e dar a ideia de desaparecimento.
Presença ausente é, então uma Vídeo instalação que inclui o espectador, apresentando-se quase como espelho da situação que está a acontecer em frente à projeção.
Esta mutação entre corpo e fundo interessou-me bastante, através da fusão entre uma imagem em erosão (gravada previamente) e uma imagem em construção (webcam conectada em direto com software de streaming). Existe, portanto, uma antítese entre uma imagem prevista de uma ação e uma câmara que produz uma imagem momentânea.
A projeção à escala real da figura, cria certa uma estranheza pela interferência de realidades/dimensões (real e projetada).
A possibilidade desta vídeo instalação poder ser readaptada a vários espaços e contextos expositivos (domínio de galeria ou domínio público) possibilita a criação de novos sentidos e novas leituras para a peça.
Dimensões variáveis consoante o local apresentado, projeção da figura à escala real (177cm)
Sinopse:
Este projeto parte de uma de uma característica minha relativa a certas circunstâncias, o facto de querer passar despercebido nas situações, tentando ser sempre o mais discreto possível.
Esta questão de “Como não ser visto?” foi o mote para este trabalho. Comecei, então, a pensar como poderia criar uma imagem que materializasse esta ideia de camuflagem social. Surgiu a ideia de usar o Green Screen/Chroma key como meio de converter o fundo e dar a ideia de desaparecimento.
Presença ausente é, então uma Vídeo instalação que inclui o espectador, apresentando-se quase como espelho da situação que está a acontecer em frente à projeção.
Esta mutação entre corpo e fundo interessou-me bastante, através da fusão entre uma imagem em erosão (gravada previamente) e uma imagem em construção (webcam conectada em direto com software de streaming). Existe, portanto, uma antítese entre uma imagem prevista de uma ação e uma câmara que produz uma imagem momentânea.
A projeção à escala real da figura, cria certa uma estranheza pela interferência de realidades/dimensões (real e projetada).
A possibilidade desta vídeo instalação poder ser readaptada a vários espaços e contextos expositivos (domínio de galeria ou domínio público) possibilita a criação de novos sentidos e novas leituras para a peça.
‘Tu és uma pedrinha desta praia’, 2017
Proposta:O Eu Aparente (2ª resposta)
Peças cerâmicas em barbotina pelo processo de molde cerâmico
Dimensões variáveis (cada peça individualmente com cerca de 15x10x7 cm)
Este projeto surge como uma segunda resposta à proposta do Eu Aparente.
Tem como ponto de partida um espaço que me é muito próximo desde sempre (praia de Guilheta, s. Paio de Antas, Esposende). O título remete para uma expressão que a minha mãe usa para me descrever desde que sou pequeno: ‘Tu és uma pedrinha desta praia’.
Com isto, desenvolvi várias peças cerâmicas a partir de moldes tacelados. As peças são múltiplas de modelações que lembram seixos mas que contêm fragmentos do meu corpo (Boca, nariz, , …)
Ainda se encontra em desenvolvimento este projeto, no entanto já estão editadas perto de sessenta peças cerâmicas. A fase final de devolver as peças ao local de onde partiram (praia) assim como o registo fotográfico da sua camuflagem com os outros seixos ainda está por concluir.
Dysfunctional Statement, 2018
Proposta: O Eu Interior
Materiais: Madeira, escova, balde, cartazes em impressão serigráfica sobre papel de jornal
Dimensões: 260x208x180 cm
As dificuldades que o meu processo criativo me estava a trazer tornou-se a própria resposta para o meu problema. Decidi portanto debruçar-me sobre a dificuldade de arranjar uma tradução coerente para transmitir uma ideia e materializá-la em algo palpável. Esta sensação de inquietação no processo criativo é bastante frequente em mim, ocupando-me de forma exaustiva mental e fisicamente.
Com isto, comecei a pensar como poderia materializar esta ideia de incoerência no processo criativo e como poderia tornar a metodologia na própria peça. Parti de um ato muito simples e simbólico de afirmar uma ideia, como é exemplo a ação de afixar um papel numa parede ou num muro, sendo um espaço ambíguo e extremamente simbólico.
Assim, idealizei uma peça que se apresenta como uma metáfora para esta inquietação no processo criativo. Trata-se de um fragmento de um muro descontextualizado em que estão afixados cartazes com uma mancha de texto indecifrável. A imagem impressa serigraficamente nestes cartazes é a sobreposição de todas as páginas do meu diário gráfico e livros com desenhos e textos que são o registo do meu processo para chegar ao "resultado final".
Junto do muro estão uma pilha de cartazes, uma escova (cujo cabo foi desbastado até ter uma espessura muito fina que a torna frágil e a afasta do seu propósito original e cujas fibras da escova estão cortadas de forma a lembrarem uma paisagem pessoal) e um balde sem fundo.
Todos estes elementos criam uma situação hipotética e disfuncional, como que uma metáfora para a dificuldade de tradução de uma ideia. Um balde sem fundo e uma escova disfuncional, a representar um método com falhas e ineficaz e o próprio veículo da mensagem (o cartaz) é ilegível, pouco claro e incoerente.
Sargaço : uma abordagem poético-artística sobre a matéria, 2018
Edição de artista: caixa de pinho, livro, sabonete de sargaço e glicerina, extratos de algas, algas desidratadas, desdobrável e onze impressões de catalogação de espécies
Dimensões caixa 30x30x15 cm
Dimensões caixa 30x30x15 cm
Entre o nosso corpo e o território permanece a matéria, parte integrante da nossa experiência de mundo. É através dela que sentimos o real.
Existimos no mesmo plano estético, movemo--nos nos mesmos espaços, fazemos parte dos mesmos ciclos.
A fisicalidade de uma matéria não deve ser única e exclusivamente usada para usufruto desatento, desprovido de uma consciência humilde acerca de todas as outras camadas íntimas latentes à matéria.
Agarrado a ela está toda a memória coletiva de um modo de usar e de coexistir. Devemos olhar para isto de modo a tornar mais plena a ideia de indivíduo.
Deixemos o ponto de vista do romântico contemplativo, agarrando os elementos de forma consciente. Compreender o que nos rodeia é intersetar incisivamente os conceitos estruturais de beleza, de fisicalidade e de presença.
A natureza endurecida pelo homem e a moleza da matéria virgem relacionam-se com o corpo presente e com os elementos de forma cíclica. Os fluxos e refluxos do mar simultaneamente levam e devolvem os resíduos desses ciclos, criando paisagens silenciosamente instáveis e voláteis.
Artefactos de uma arqueologia do presente, consequência de desvios e extravios sucessivos de elementos duros, agarram-se a um ciclo mole, como um parasita que aos poucos engole o hospedeiro.
Constituído por um método científico experimental com uma forte componente intuitiva, esta investigação artístico-poética adota um modo de trabalhar que estrutura oscilações generativas entre os lugares e as suas narrativas, entre o espaço aberto do mundo natural e o mundo contido numa página.
O livro surge como materialização de um pensamento.
Existimos no mesmo plano estético, movemo--nos nos mesmos espaços, fazemos parte dos mesmos ciclos.
A fisicalidade de uma matéria não deve ser única e exclusivamente usada para usufruto desatento, desprovido de uma consciência humilde acerca de todas as outras camadas íntimas latentes à matéria.
Agarrado a ela está toda a memória coletiva de um modo de usar e de coexistir. Devemos olhar para isto de modo a tornar mais plena a ideia de indivíduo.
Deixemos o ponto de vista do romântico contemplativo, agarrando os elementos de forma consciente. Compreender o que nos rodeia é intersetar incisivamente os conceitos estruturais de beleza, de fisicalidade e de presença.
A natureza endurecida pelo homem e a moleza da matéria virgem relacionam-se com o corpo presente e com os elementos de forma cíclica. Os fluxos e refluxos do mar simultaneamente levam e devolvem os resíduos desses ciclos, criando paisagens silenciosamente instáveis e voláteis.
Artefactos de uma arqueologia do presente, consequência de desvios e extravios sucessivos de elementos duros, agarram-se a um ciclo mole, como um parasita que aos poucos engole o hospedeiro.
Constituído por um método científico experimental com uma forte componente intuitiva, esta investigação artístico-poética adota um modo de trabalhar que estrutura oscilações generativas entre os lugares e as suas narrativas, entre o espaço aberto do mundo natural e o mundo contido numa página.
O livro surge como materialização de um pensamento.
A casa não existe sem antes ser vivida, 2018
Letícia Costelha & Miguel Teodoro
Estrutura em madeira de pinho, projecção multimédia
Dimensões da instalação adaptadas ao espaço do armazém Santa Clara
Estrutura em madeira de pinho, projecção multimédia
Dimensões da instalação adaptadas ao espaço do armazém Santa Clara
“A casa não existe sem antes ser vivida” parte de uma análise consciente do movimento actual da cidade, observando espaços que são parte da identidade do seu povo e de modos de habitar específicos que são agora desvirtuados por uma idealização urbana.
É através de uma construcção que remete para uma arquitectura social desmultiplicável reminiscente da configuração das ilhas do Porto com as suas constantes readaptações, que se cria esta intervenção poética, refletindo sobre questões de habitação e consequentes vivências intímas da utilização do espaço.
Espaços expectantes condensam em si tanto um movimento temporal de simbiose com o indivíduo como também as marcas resultantes reconfiguram o espaço através da materialização de vestígios dessas mesmas vivências, uma presença ausente.
A criação de uma atmosfera do íntimo, com a consciência da presença espacial e contextual no espaço urbano, cria um cenário de possíveis construções narrativas e discursivas entre a imagem exterior e interior do edificado do bairro.
É através de uma construcção que remete para uma arquitectura social desmultiplicável reminiscente da configuração das ilhas do Porto com as suas constantes readaptações, que se cria esta intervenção poética, refletindo sobre questões de habitação e consequentes vivências intímas da utilização do espaço.
Espaços expectantes condensam em si tanto um movimento temporal de simbiose com o indivíduo como também as marcas resultantes reconfiguram o espaço através da materialização de vestígios dessas mesmas vivências, uma presença ausente.
A criação de uma atmosfera do íntimo, com a consciência da presença espacial e contextual no espaço urbano, cria um cenário de possíveis construções narrativas e discursivas entre a imagem exterior e interior do edificado do bairro.