A Caixa
Proposta: Ensaio
Dimensões: O objeto (fechado): 43 x 42 x 25 cm
Quando exposto (fechado): 316 x 372 x 111 cm
Quando aberto a altura é variável.
Materiais: Contraplacado de bétula, aço e corda de sisal.
Dimensões: O objeto (fechado): 43 x 42 x 25 cm
Quando exposto (fechado): 316 x 372 x 111 cm
Quando aberto a altura é variável.
Materiais: Contraplacado de bétula, aço e corda de sisal.
Sinopse
Há uma caixa para cada conceito. O que há no conceito? O que há na caixa? Não há nada na caixa. No conceito? Apenas mais do que ele e menos do que ele, não ele.
“Os conceitos são gavetas que servem para classificar os conhecimentos, os conceitos são roupas de confeção que desindividualizam conhecimentos vividos. Para cada conceito há uma gaveta no móvel das categorias. O conceito é o pensamento morto, já que é, por definição, pensamento classificado.” 1
Há uma rapariga que saí do armário, aliás, que assume que nunca lá esteve! Lhe perguntam qual a sua gaveta, onde se encaixa, onde mora. Ela não encontra um local para morar. Cada caixa que pensa que lhe serve, ela abre e examina. Nunca há nada lá, nada do que designa, e ela não se ajusta. Sempre que abre uma caixa, tudo salta fora dela, tudo procura outra. Tudo constantemente a “conectar-se e a seguir desconectar-se dá a ilusão de movimento, de liberdade, de um desejar diverso, rico e múltiplo. Dá a ilusão de uma continuidade de movimento que traz consigo a inscrição de todos os presentes pontuais num tempo único (fora de tempo) como «tempo» do sentido da vida. Movimento realmente ilusório, pois esse saltitar de uma pequena coisa para outra não faz senão escamotear o sentido de uma inscrição que prolonga outra inscrição.” 2
Ela tem um desejo. Ela quer saltar. Não de caixa em caixa, mas do nada para o nada, que tudo é e onde tudo pertence. Ela quer ser o que é, mas não o ser. Uma rapariga que não o quer ser, mas que não o quer deixar de ser.
Não, ela não está perdida, ela simplesmente percebeu que não há razão para querer encontrar-se.
_____________
1 BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
2 GIL,José. Portugal, hoje: o medo de existir. 9ª reimp. Lisboa: Relógio D'Água, 2005.
Há uma caixa para cada conceito. O que há no conceito? O que há na caixa? Não há nada na caixa. No conceito? Apenas mais do que ele e menos do que ele, não ele.
“Os conceitos são gavetas que servem para classificar os conhecimentos, os conceitos são roupas de confeção que desindividualizam conhecimentos vividos. Para cada conceito há uma gaveta no móvel das categorias. O conceito é o pensamento morto, já que é, por definição, pensamento classificado.” 1
Há uma rapariga que saí do armário, aliás, que assume que nunca lá esteve! Lhe perguntam qual a sua gaveta, onde se encaixa, onde mora. Ela não encontra um local para morar. Cada caixa que pensa que lhe serve, ela abre e examina. Nunca há nada lá, nada do que designa, e ela não se ajusta. Sempre que abre uma caixa, tudo salta fora dela, tudo procura outra. Tudo constantemente a “conectar-se e a seguir desconectar-se dá a ilusão de movimento, de liberdade, de um desejar diverso, rico e múltiplo. Dá a ilusão de uma continuidade de movimento que traz consigo a inscrição de todos os presentes pontuais num tempo único (fora de tempo) como «tempo» do sentido da vida. Movimento realmente ilusório, pois esse saltitar de uma pequena coisa para outra não faz senão escamotear o sentido de uma inscrição que prolonga outra inscrição.” 2
Ela tem um desejo. Ela quer saltar. Não de caixa em caixa, mas do nada para o nada, que tudo é e onde tudo pertence. Ela quer ser o que é, mas não o ser. Uma rapariga que não o quer ser, mas que não o quer deixar de ser.
Não, ela não está perdida, ela simplesmente percebeu que não há razão para querer encontrar-se.
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1 BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
2 GIL,José. Portugal, hoje: o medo de existir. 9ª reimp. Lisboa: Relógio D'Água, 2005.
Sem Título Aparente
Proposta: Corpo presente / corpo físico ausente (1ª Fase – O Eu Aparente)
Dimensões: 65 x 73 x 69 cm
Materiais: Edição em cimento, por modelação em barro e moldagem por forma perdida em gesso.
Dimensões: 65 x 73 x 69 cm
Materiais: Edição em cimento, por modelação em barro e moldagem por forma perdida em gesso.
Sinopse
Rude, pesada e de soslaio no olho. Um primeiro eu que se apresenta à sociedade.
O eu visível que assume uma posição auto protetora, comummente julgada de arrogante e antissocial, que aparenta ver no outro uma ameaça que o tenta desnudar e despedaçar. O eu encenado que vê naquela árvore a um canto do jardim, o seu refúgio protetor onde se pode reconstruir. O eu físico, que pela sua escala procura simular a atmosfera envolvente num primeiro contato entre ele e o observador, culpabilizado-o pelos membros arrancados que firmemente reconstrói.
O eu aparente que o é sem o ser e que reage a uma ameaça que não sente.
Rude, pesada e de soslaio no olho. Um primeiro eu que se apresenta à sociedade.
O eu visível que assume uma posição auto protetora, comummente julgada de arrogante e antissocial, que aparenta ver no outro uma ameaça que o tenta desnudar e despedaçar. O eu encenado que vê naquela árvore a um canto do jardim, o seu refúgio protetor onde se pode reconstruir. O eu físico, que pela sua escala procura simular a atmosfera envolvente num primeiro contato entre ele e o observador, culpabilizado-o pelos membros arrancados que firmemente reconstrói.
O eu aparente que o é sem o ser e que reage a uma ameaça que não sente.
O Outro
Proposta: Proposta 2 – corpo presente / corpo físico ausente: 2ª Fase – Analisado Por Dentro (1ª resposta)
Dimensões: O objeto: 150 x 45 x 60 cm
Instalado: dimensões variáveis.
Materiais: Madeira de pinho, tecido branco e esponja.
Dimensões: O objeto: 150 x 45 x 60 cm
Instalado: dimensões variáveis.
Materiais: Madeira de pinho, tecido branco e esponja.
Sinopse
O problema de audição que me carateriza também agrega outras particularidades ao meu ser, como o contínuo esforço para manter a estabilidade tanto física como nas relações sociais. Para além da procura do equilíbrio do próprio corpo, também é necessária a sua busca na relação com o outro, uma vez que audição débil dificulta a socialização, pois, numa comunicação verbal, a mensagem chega muitas vezes incompleta.
Neste projeto, procurei promover a experiência deste mecanismo (divulgado por Iberê Thenório como cadeira com pernas humanas), que cria um jogo onde tanto se procura o equilíbrio e conforto mútuos, como se testa o desequilíbrio do outro dentro dessa comodidade. Assim, a comunicação verbal torna-se secundária e os sinais corporais do outro tornam-se mais importantes, provocando entre os utilizadores uma relação mais próxima daquela que eu perceciono na convivência com os meus pares.
O problema de audição que me carateriza também agrega outras particularidades ao meu ser, como o contínuo esforço para manter a estabilidade tanto física como nas relações sociais. Para além da procura do equilíbrio do próprio corpo, também é necessária a sua busca na relação com o outro, uma vez que audição débil dificulta a socialização, pois, numa comunicação verbal, a mensagem chega muitas vezes incompleta.
Neste projeto, procurei promover a experiência deste mecanismo (divulgado por Iberê Thenório como cadeira com pernas humanas), que cria um jogo onde tanto se procura o equilíbrio e conforto mútuos, como se testa o desequilíbrio do outro dentro dessa comodidade. Assim, a comunicação verbal torna-se secundária e os sinais corporais do outro tornam-se mais importantes, provocando entre os utilizadores uma relação mais próxima daquela que eu perceciono na convivência com os meus pares.
A Cadeira
Proposta: Proposta 2 – corpo presente / corpo físico ausente: 2ª Fase – Analisado Por Dentro (2ª resposta)
Dimensões: O objeto: 98 x 62 x 60 cm
Instalado: dimensões variáveis
Áudio: 5'19''
Técnica: Adaptação de objetos já existentes.
Dimensões: O objeto: 98 x 62 x 60 cm
Instalado: dimensões variáveis
Áudio: 5'19''
Técnica: Adaptação de objetos já existentes.
Sinopse
Vivi os primeiros 17 anos da minha vida com a audição reduzida apenas ao lado esquerdo devido a uma atresia no ouvido direito. Quando experimentei pela primeira vez o processador de som, todo o ambiente que me rodeava parecia diferente. Subitamente o mundo parecia ter perdido a sua tranquilidade. Cada som que ouvia parecia que nunca o tinha ouvido antes e cada nova experiência transportava-me para um limbo onde o deleite e a perturbação pareciam um só.
Eu quero simular esses contrastes que se convergem nesse momento em que experimentei o processador, esse instante que me fez desequilibrar na cadeira através de inesperado ruído, que se apresentava como um revelador do mundo que me esperava.
Neste projeto, convido todos os utilizadores a experimentar essa particularidade do meu ser, que convive constantemente com a inconstância, com o (des)equilíbrio físico e percetivo e procura ordenar toda essa (des)ordem que experiência.
______________
- A voz do áudio pertence a Grécia Paola.
Vivi os primeiros 17 anos da minha vida com a audição reduzida apenas ao lado esquerdo devido a uma atresia no ouvido direito. Quando experimentei pela primeira vez o processador de som, todo o ambiente que me rodeava parecia diferente. Subitamente o mundo parecia ter perdido a sua tranquilidade. Cada som que ouvia parecia que nunca o tinha ouvido antes e cada nova experiência transportava-me para um limbo onde o deleite e a perturbação pareciam um só.
Eu quero simular esses contrastes que se convergem nesse momento em que experimentei o processador, esse instante que me fez desequilibrar na cadeira através de inesperado ruído, que se apresentava como um revelador do mundo que me esperava.
Neste projeto, convido todos os utilizadores a experimentar essa particularidade do meu ser, que convive constantemente com a inconstância, com o (des)equilíbrio físico e percetivo e procura ordenar toda essa (des)ordem que experiência.
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- A voz do áudio pertence a Grécia Paola.
Natimortos
Proposta: Proposta 1 – Objeto de autor - Módulo
Dimensões: Módulo: 42.5 x 30 x 12 cm
Instalado: dimensões variáveis.
Materiais: parafina, tinta de óleo, chocolate, gesso, folha dourada, corda de algodão, papel.
Dimensões: Módulo: 42.5 x 30 x 12 cm
Instalado: dimensões variáveis.
Materiais: parafina, tinta de óleo, chocolate, gesso, folha dourada, corda de algodão, papel.
Sinopse
Olhar para eu. Afirmar-se como um ser autêntico, consciente de si.
Atos proibidos numa sociedade que prega a existência somente em prol do outro, que despreza o indivíduo em favor da construção de um coletivo.
Impõe um eu pré-definido exterior a nós. E nós, com medo de desenvolver uma imagem própria autodepreciativa, submetemo-nos e depravamo-nos. Deixamos de procurar “olhar para dentro”, de valorizar o autoconhecimento. Passamos antes a concentrar-nos numa imagem, num eu aparente que distorce o conceito de si. “A imagem de si (ideal, imaginária, ditada pela norma não imaginária do político-social-moral-psicologicamente correto) impõe regras de comportamento, interioriza interditos, autocensura o indivíduo. Constitui um limite severo à livre expressão, ao pensamento e à acção livres.” (Gil, 2005:80)
Deixamos de saber quem somos, quantos somos, o que somos. Como se vivêssemos “vidas alheias (…) Uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço” (Pessoa, 1915?). Como se o “si autobiográfico” (Damásio, 2001:204) deixa-se de ser construído pelo sujeito próprio e fosse unicamente produto de um meio exterior, como um carro puxado a reboque.
Materializamos os eus ilusórios que os outros projetam em nós, como se as possibilidades que o momento do nascimento nos oferece já estivessem definidas por outrem e todas as outras novas que, porventura, lutássemos por ter, resultariam apenas riscos e desgraças. Mas é o contrário que acontece. É o não ser autêntico, o deixar o interior corroer-se pelo exterior que leva a cair em desgraça, o ser totalmente submisso ao que a sociedade impõe que nos deixa infelizes, incompletos, depravados. É quem personifica o papel que lhe é imposto e não procura o seu próprio que não se sente em si. A doçura da mulher que lhe ditaram ser dona de casa, não revela ser mais que um disfarce da violência que sofre todos os dias. O sucesso de quem lhe foi entregue uma empresa para as mãos não resulta senão da sua falta de escrúpulos. A pureza de quem lhe incitaram a observância da devoção esconde os prazeres que não consegue controlar.
Precisamos de nascer! Não ser somente um recurso do outro, mas também um eu que se percebe, constrói e afirma.
Olhar para eu. Afirmar-se como um ser autêntico, consciente de si.
Atos proibidos numa sociedade que prega a existência somente em prol do outro, que despreza o indivíduo em favor da construção de um coletivo.
Impõe um eu pré-definido exterior a nós. E nós, com medo de desenvolver uma imagem própria autodepreciativa, submetemo-nos e depravamo-nos. Deixamos de procurar “olhar para dentro”, de valorizar o autoconhecimento. Passamos antes a concentrar-nos numa imagem, num eu aparente que distorce o conceito de si. “A imagem de si (ideal, imaginária, ditada pela norma não imaginária do político-social-moral-psicologicamente correto) impõe regras de comportamento, interioriza interditos, autocensura o indivíduo. Constitui um limite severo à livre expressão, ao pensamento e à acção livres.” (Gil, 2005:80)
Deixamos de saber quem somos, quantos somos, o que somos. Como se vivêssemos “vidas alheias (…) Uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço” (Pessoa, 1915?). Como se o “si autobiográfico” (Damásio, 2001:204) deixa-se de ser construído pelo sujeito próprio e fosse unicamente produto de um meio exterior, como um carro puxado a reboque.
Materializamos os eus ilusórios que os outros projetam em nós, como se as possibilidades que o momento do nascimento nos oferece já estivessem definidas por outrem e todas as outras novas que, porventura, lutássemos por ter, resultariam apenas riscos e desgraças. Mas é o contrário que acontece. É o não ser autêntico, o deixar o interior corroer-se pelo exterior que leva a cair em desgraça, o ser totalmente submisso ao que a sociedade impõe que nos deixa infelizes, incompletos, depravados. É quem personifica o papel que lhe é imposto e não procura o seu próprio que não se sente em si. A doçura da mulher que lhe ditaram ser dona de casa, não revela ser mais que um disfarce da violência que sofre todos os dias. O sucesso de quem lhe foi entregue uma empresa para as mãos não resulta senão da sua falta de escrúpulos. A pureza de quem lhe incitaram a observância da devoção esconde os prazeres que não consegue controlar.
Precisamos de nascer! Não ser somente um recurso do outro, mas também um eu que se percebe, constrói e afirma.
Segunda Pele
Proposta: Proposta 3 - Quase final
Dimensões: Instalação: dimensões variáveis.
Video: 12'59''
Materiais: Espelho, cadeira, roupa, tapete, chinelos, PVA (acetato de polivinilo), monitor 30 cm.
Dimensões: Instalação: dimensões variáveis.
Video: 12'59''
Materiais: Espelho, cadeira, roupa, tapete, chinelos, PVA (acetato de polivinilo), monitor 30 cm.
Sinopse
A mente confunde a perceção. Ela interpreta, define e deturpa o real e a identidade. Faz-nos ser vários ou nós que nos percecionamos vários? É o eu um conjunto de ser múltiplos e mutáveis que se complementam ou uma totalidade múltipla de eus catalogados para dizer sem contradizer, para apaziguar os dilemas do pensamento e da vontade?
A identidade, como produto da relação do sujeito com um meio social, é fragmentada pela tentativa do indivíduo de executar os vários papeis que assume numa sociedade, tornando-se contraditória. O sujeito, ao perceber-se a partir outro, cria autoconceitos pela autodefinição de si, pela definição dos outros sobre si e pela definição dos mesmos perante a autodefinição que o sujeito lhes fornece.
O sujeito atribui conceitos, representações e julgamentos à sua própria pessoa que, consequentemente, molda a sua perceção e aparência. Assim, o autoconceito torna-se mutável, presenteando-nos constantemente com momentos de mudança e renovação em que um eu desgastado se transmuta num novo eu cheio de vitalidade, como se de uma ecdise se trata-se. Neste processo, simboticamente, o sujeito se influencia no outro, e este, pela perceção do ocorrido, espelha-se nele e revê-se na mesma ação, sendo o sujeito e o outro individualidades múltiplas e distintas mas que se abreviam num só por um processo de simbiose.
A mente confunde a perceção. Ela interpreta, define e deturpa o real e a identidade. Faz-nos ser vários ou nós que nos percecionamos vários? É o eu um conjunto de ser múltiplos e mutáveis que se complementam ou uma totalidade múltipla de eus catalogados para dizer sem contradizer, para apaziguar os dilemas do pensamento e da vontade?
A identidade, como produto da relação do sujeito com um meio social, é fragmentada pela tentativa do indivíduo de executar os vários papeis que assume numa sociedade, tornando-se contraditória. O sujeito, ao perceber-se a partir outro, cria autoconceitos pela autodefinição de si, pela definição dos outros sobre si e pela definição dos mesmos perante a autodefinição que o sujeito lhes fornece.
O sujeito atribui conceitos, representações e julgamentos à sua própria pessoa que, consequentemente, molda a sua perceção e aparência. Assim, o autoconceito torna-se mutável, presenteando-nos constantemente com momentos de mudança e renovação em que um eu desgastado se transmuta num novo eu cheio de vitalidade, como se de uma ecdise se trata-se. Neste processo, simboticamente, o sujeito se influencia no outro, e este, pela perceção do ocorrido, espelha-se nele e revê-se na mesma ação, sendo o sujeito e o outro individualidades múltiplas e distintas mas que se abreviam num só por um processo de simbiose.